Amor ou comodismo?

É comum essa pergunta surgir quando o assunto é relacionamentos interpessoais. Mas eu acabei percebendo que na verdade involve todos os tipos de relacionamentos afetivos. Mesmo aqueles entre uma pessoa... e uma cidade! E não vou dizer país porque fica algo muito geral. Sendo o Brasil ou qualquer outro, todos possuem diferentes cidades com suas diferentes culturas e costumes. 

E depois de quase 6 meses morando fora do Brasil as pessoas sempre me perguntam se eu quero voltar. E tendo muitos amigos e conhecidos vivendo o mesmo, eu vejo que a resposta é quase que unânime: ninguém quer voltar.




Quem tá fora quer ficar, quem tá dentro quer sair. Meu pai me alertou e aconselhou que eu ía querer ficar, e que eu deveria! O sonho dele e de muitos brasileiros foi sempre ir pra grama mais verde dos países europeus ou dos EUA. E porque seria diferente, né? O Brasil, ou pra ser mais específica, o Rio de Janeiro tem tantos problemas. É tanta violência, tanta precariedade, tanta injustiça, tanta corrupção.. Qual brasileiro não ía querer morar num país desenvolvido, sem criminalidade, com alta qualidade de vida e educação? 

E é verdade. Qual brasileiro não ficaria feliz em poder andar na rua a noite, ou com celular (ou tablet!) na mão, sem o medo de ser assaltado? De não ter que pagar frescão pra ter um transporte público mais confortável? De não ter que pagar plano de saúde pra ter atendimento de qualidade? De não ter que pagar escola particular pra ter uma educação de qualidade? Qual brasileiro não queria ter políticos honestos que aplicam dinheiro público nos locais corretos, e não nas próprias cuecas? Que não superfaturam obras públicas? Que não somem com vigas de viaduto? Qual brasileiro, a um pé da copa, não queria políticos que recusassem sediar jogos para não usar dinheiro público?

Eu quero tudo isso! Claro que eu quero, não sou louca.

A questão é: eu quero tudo isso... no Rio de Janeiro! (de novo, pra ser bem específica). 

Eu sei que apesar dos 6 meses eu só conheci (comparando com o total de países) 4 capitais européias. Mas eu digo com toda a certeza do meu ser que eu não seria feliz morando em nenhuma delas. Até mesmo Amsterdam, que chegou muito perto de ganhar esse posto, eu não conheço tanto a ponto de dar essa vitória. E apesar da minha afinidade e vontade de imergir na cultura Italiana, também não me imagino morando em Roma, nem mesmo Palermo. Mas disso só vou ter certeza depois de ir lá. 

Mas eu já tinha completa ciência disso antes mesmo de vir pra cá. Claro que eu quero ter uma educação em uma universadidade conceituada européia! Sempre quis! No segundo período da faculdade já falava pro meu pai juntar dinheiro pra me ajudar a fazer uma pós no exterior. Mas educação e turismo são as únicas coisas que eu almejo aqui fora. Eu não consiguia, e ainda não consigo, me imagnar vivendo fora do Rio de Janeiro. E foi essa inclusive a resposta pro conselho do meu pai. 

E mesmo depois de tanta coisa ruim acontecendo na minha cidade, tanta gente reclamando do calor, tanto amigo no exterior falando que não queria mais voltar, eu só consigo pensar que eu não moraria em nenhum outro lugar. 

E eu comecei a pensar o por que disso. 

Claro que sinto saudade das pessoas, mas será que é isso que me faz querer voltar pro Rio? Mas se fosse por isso eu pensaria em morar fora e fazer visitas nas férias.. Tem internet também. Será que eu sinto falta de morar com meus pais? Ou do meu bebê carro vermelho? Se fosse por isso eu pensaria em morar fora, trazer minha família, e comprar outro carro vermelho. Será que é a comida? Mas tem restaurante brasileiro em todo canto, e tem os correios pra me mandarem biscoito de polvilho. Por mais que meu estômago seja mineiro e ame queijo minas, esse não seria o motivo. 

A pergunta que surgiu na minha mente então, foi: "Do que mais eu sinto falta?"

E do fundo do meu coração eu posso dizer: eu sinto falta DO Rio de Janeiro.

Eu sinto falta do meu lindo bairro arborizado e apertado; sinto falta da Tijuca e todo seu centro comercia;  sinto falta de passar pelo bairro que cresci e reconhecer cada esquina e recordar cada lembrança; de ir pra casa da vovó e ir a pé cortar o cabelo na cabelereira que já é considerada parte da família; sinto falta de pegar a perimetral (e agora vou chorar porque ela não vai existir mais quando eu voltar); sinto falta de botafogo; sinto falta de passar pelo Aterro do Flamengo; sinto falta da Rio Branco e da Nilo Peçanha; sinto falta do metrô da Carioca; sinto falta de ir no Centro sábado de manhã com meu pai; sinto falta de pegar a ponte rio-niterói às 16h vendo o sol quase se pondo e depois das 22h o mais rápido que o carro aguentava; sinto falta de esperar o 703D vendo a praia de icaraí; sinto falta da Joaquim Távora; sinto falta de andar em Icaraí e tomar frozen yogurt quase todo fim de semana; sinto falta de passar pela Rua do Perdeu e encher a boca pra falar "Eu morava aí!"; sinto falta de pegar a Linha Amarela e chegar em 15min na Barra da Tijuca; sinto falta da Av. das Américas e da orla da Barra; sinto falta de passar pela Estrada Lagoa-Barra temendo cair do viaduto ao mesmo tempo que apreciava a vista indescritível; sinto falta até da Penha!; sinto falta da Dias da Cruz; sinto falta dos vendedores ambulantes que entravam no ônibus na Grajaú-Jacarepaguá; sinto falta da Grajaú-Jacarepaguá; sinto falta da 28 de setembro; sinto falta de passar pelo Maracanã e lembrar dos meus anos de natação; sinto falta do calor, do sol escaldante, do céu azul impecável e do vento quente em todo santo lugar; sinto falta até de ter que me preocupar em não desmaiar por causa do calor; sinto falta do ar condicionado; sinto falta de andar de havaianas; sinto falta das praias, do mar, do mate e do globo, do côco.

Eu sinto falta da minha cidade. De todo seu clima e cultura. De todo carioca. Eu sinto falta da minha vida naquela cidade.

Foi então que eu cheguei na pergunta que faz título a esse longo post: "Será que isso é amor? Ou será que é costume?" 

É como se eu tivesse terminado um relacionamento e ainda fosse loucamente apaixonada. É um relacionamento a distância com contato vedado. Eu fui separada do meu amor e ela está a me esperar. Mas a questão é, eu nunca pensei em terminar. Eu pensei em ir, ficar 1 ou 2 anos separada, e voltar. Mas terminar? Riscar da vida? Ou virar a ex que você sai de vez em outra? Não. Nunca pensei nisso.

Então se fosse costume quando eu me separasse eu ía perceber, não? Será que só se eu esquecesse que ía perceber? Ou será que o fato de mesmo longe eu não esquecer, não deixar de amar uma vírgula, significa que é amor de verdade?

A verdade é que eu não sei. 

A única coisa que hoje eu sei é que eu AMO o meu Rio de Janeiro. Que inclusive nunca me traiu, ou melhor, nunca me assaltou. E apesar de Iamsterdam no pensar e mineira no estômago, o coração é carioca. 

Eu amo, eu quero voltar, eu não penso em me mudar.

Porque cidade como o Rio, gente como o carioca e clima como o do sudeste, aah.. mas não vai ter em outro lugar MESMO! 


4 comentários:

  1. Filha, o importante é ser livre para tomar suas decisões, poder ter a chance de experimentar coisas, lugares novos e voce e somente voce vai decidir a sua vida.
    Como te conheço muito bem e também pela minha paixão pelo Rio/Surf, sei que voce vai usar toda esta experiencia para melhorar o lugar que vivemos, vai permitir que pessoas comuns, humildes se beneficie de um mundo melhor que voce vivenciou e mesmo que voce mude de ideia ou de cidade, sei que sempre terá o Rio no seu coração e nas suas ações. Faça o que te deixe feliz que voce vera o mundo com os olhos da sabedoria e ele te retribuira com mais felicidades. Bjs

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  2. Lu, vc é uma pessoa linda! Tenho certeza que vc é a cidadã que uma cidade gostaria de ter. Siga o seu coração que ele vai te levar sempre para os caminhos que vc realmente deseja!

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