Saúde em Lund

#Desabafo

Como uma aluna de intercâmbio sem número pessoal sueco (quem fica menos de 12 meses no país não tem direito a um número pessoal sueco - algo como o cpf no Brasil), o atendimento de saúde é um tanto quanto.. complicado.

Se você não estiver morrendo, com alguma doença em estado grave, você não consegue um pronto-atendimento com um médico. Precisa marcar consulta. Ou ir no horário determinado.

Aqui não tem um hospital particular como os da linha D'or do Rio de Janeiro (não sei se tem em outros estados do Brasil), em que você chega a hora que quiser, passa por uma triagem e é encaminhada para um médico na hora.

A ordem aqui é: sem espera para atendimento, agende.

Vou contar meu exemplo.



Estou com suspeita de amigdalite. Já tive no início do ano no Brasil, e pra quem nunca teve é HORRÍVEL. Isso na verdade é infecção na gargante, nas amígdalas, mas o principal e pior sintoma não é a dor de garganta ou a tosse, é a dor no corpo! Com as palavras da médica que me atendeu no Brasil: é uma dor como se você tivesse sido atropelada.

Eu nunca fui atropelada pra saber, mas eu sinto como se alguém tivesse me dado uma surra. Ok, também nunca levei uma surra.. Mas dói tudo! É dor de febre elevada ao cubo! Pronto, ótima definição rs. Dói a perna toda, o pé, o braço, dói respirar, e a nuca então!! Dói ficar em pé, dói ficar sentada. Remédio para dor ajuda. Mas só disfarça o problema, porque amigdalite se trata com antibiótico!

Depois de três dias com dor, fui ao hospital universitário no centro de Olhos, nariz e garganta a procura de um médico para me atender na hora. A enfermeira disse que estavam muito cheios. Detalhe: vi 5 pessoas na sala de espera. Ela me deu um telefone de uma clínica e disse para ligar as 17h (eram 14h quando ela disse isso) que me agendariam para o mesmo dia até as 22h. Liguei para a clínica no horário, e me surpreendi.

A enfermeira perguntou se eu havia comido hoje. Respondi que sim. Depois ela perguntou se eu estava com febre. Respondi que não, que só estava com muita dor no corpo. Ela então simplesmente me disse que eu poderia esperar para ser atendida no dia seguinte de manhã, que poderiam ter pessoas precisando mais do horário da noite do que eu.

Com toda a sinceridade, para as pessoas que falam mal do Brasil por ser de terceiro mundo, prefiro MUITO mais demorar 3h pra ser atendida num hospital particular do que ter um atendimento recusado na hora em que eu preciso!

Claro, se o sistema é 1 pessoa por horário, sem espera, sem ordem de chegada, nada mais justo do que dar minha vez para quem está pior do que eu. Mas para mim esse sistema está errado. Se eu procuro um médico é porque estou no meu limite! A triagem sempre passa os casos mais graves na frente. Ou quando eu desmaiava de infecção estomacal esperando pela triagem, era sempre colocada para dentro para receber atendimento. Voltar pra casa e esperar horinha certa? Não concordo!

Boba nem nada que eu sou, perguntei se ela poderia me dizer algum remédio para tomar, porque não suportava mais dor. Ela me soletrou um nome estranho e ao procurar na internet era o bendito paracetamol.

Deus me livre de ter uma infecção estomacal nesse lugar, vai que eles não consideram grave..

// Atualizando:

Hoje fui ao médico, finalmente! Cheguei na clinica no horário da Recepção Drop-in, dei um número de registro (um fake personal number) que uma outra clínica já tinha feito pra mim, me entregaram uma ficha com um adesivo com meu nome embaixo de um código de barras e pediram para escrever os remédios que usava e alergias. Depois de esperar, menos de 1hr acho, fui atendida por uma médica (em inglês, claro), expliquei tudo que estava sentindo, ela me examinou e disse que não deveria ser amigdalite porque já estava com nariz entupido e tosse a muito tempo, que deveria ser uma virose (médicos e suas viroses).

No entanto, ela disse que faria uma análise para garantir se era ou não a amigdalite. Ela colheu material das minhas amígdalas com um cotonete e levou para uma enfermeira que fez a análise NA HORA. Deu negativo para amigdalite, então a médica disse que era só uma virose mesmo pra eu tomar muito líquido e repousar.. Ah, e tomar o paracetamol para a dor no corpo.

Sim, detestei o sistema de "se você não tem nada grave que lhe impeça de viver, vai pra casa esperar a hora que a gente decide te atender", mas eles tem essa vantagem de serem modernos.

O mais engraçado é a médica dizer que mesmo se eu estivesse com a amigdalite, não necessariamente eu tomaria antibiótico!

Tinha esquecido de mencionar isso nesse post, mas os médicos aqui são MUITO conservadores. Nas palavras da médica "a gente guarda o antibiótico pra quem realmente precisa dele". Quer outro exemplo? Relatos de amigos: aqui o exame de papanicolau é feito a cada.. TRÊS ANOS!!! E se você torcer o joelho? UM Ibuprofeno POR DIA!

Ok, pode ser cultural doenças comuns/frequentes e dor serem subestimadas. Pode ser justificado o uso de substitutos de antibióticos, se eles não tiverem muitos aqui. Mas prevenção contra o câncer ser subestimada?? Que dia eu volto pro Brasil mesmo?